107 - Domingo de Páscoa

Passei o fim-de-semana a aturar filmes sobre a vida de Jesus (num deles José morreu quando Jesus era criança e noutro José morreu quando Jesus era adulto, em nenhum deles Maria e José tiveram mais filhos do que os gerados pelo José Saramago, em nenhum deles Maria era de família ilustre com benefícios de cidadã grega como presume Agustina Bessa Luís, adiante, os nossos escritores têm imaginação mais fértil que os filmes americanos e nenhum Óscar) mas não dei o tempo por mal gasto porque aprendi uma coisa muito importante da religião cristã. Pelo que depreendi Maria concebeu Jesus por obra e graça do espírito santo. Neste caso sem qualquer ironia, ela foi mesmo a origem da expressão. José primeiro ficou chocado por ver a noiva grávida, afinal andaste a enganar-me, mas depois ouviu uma voz no sonho que lhe disse que o fruto do ventre de Maria era filho do Pai-nosso que estais no céu. Com toda a inocência de quem acredita em vozes nos sonhos e nunca ouviu falar de subconsciente nem de Freud, ele assumiu a situação e casou com Maria porque a amava e não suportou ser cúmplice de a ver morrer apedrejada, independentemente de isso o livrar de várias consciências pesadas, ganhar o desprezo da família, perder o trabalho e a casa. Ao tempo em que isso se passou isto é ser sublime. Percebendo que a génese da religião cristã assenta neste primeiro acto vanguardista, de aceitação da mulher grávida solteira e fazer da gestação e do nascimento da criança um acto sagrado, nunca mais discutirei a defesa do aborto com cristãos.